Oscar 2009

Pensei que quem premiasse videoclipe fosse a MTV, e não a academia.

Nas palavras de Reichenbach: FALSA LOURA não é exatamente aquilo que a gente costuma chamar de "música para festival". É um filme em tom baixo. Eu o defino como um adágio, no sentido latino ou itálico e musical do termo: "uma sentença breve que encerra uma moralidade"; "um dos andamentos lentos da música". Este "racconto" que encerra uma moralidade, não será nunca moralizante. Trata-se de decifrar alguns códigos das paixões efêmeras e prosaicas. A mensagem é óbvia: sem estrada não há destino. Só é possível atravessar o pântano sujando as patas e saindo ileso. Aliás, a periferia neste filme é uma metáfora do pântano. FALSA LOURA é também "quase" um musical e seus quinze minutos finais estão entre o que eu filmei de melhor na vida. Como a platéia vai reagir a este adágio é uma incógnita.

Eis que hoje, procurando um devedê com filmes noir num emaranhado de cds sem nada escrito a não ser nipponic ou multilaser, ponho um desses objetos sem aparente identidade no aparelho devedê e me deparo com o menu inicial de FALSA LOURA (assim mesmo, em merecidas letras maiúsculas). E por mais que eu o tenha visto há míseras três semanas, não resisti àquele belo rosto da Rosane Mulholland me encarando de frente. Play nela.

Antes de me dedicar única e exclusivamente à minha nova paixonite, gostaria de salientar o carinho com que o Reichenbach leva seu filme: os fluidos movimentos de câmera assemelham-se a cuidadosas carícias (desconfio até mesmo que o vento que acompanha a personagem no espetacular plano final nada mais é que um sopro apaixonado do Reichenbach por sua atriz e personagem). Ah, e não há como esquecer da música do filme, - da responsabilidade do maestro Nelson Ayres - um verdadeiro achado.

Não nos percamos no caminho, voltemos àquele que é, sem dúvida, um dos mais interessantes realizadores da chamada retomada do cinema brasileiro (e seu FALSA LOURA um dos melhores filmes brasileiros do recém falecido ano de 2008): seus filmes têm um interessantíssimo quê de artesanato, de manufatura - como bem frisado na crítica do filme no blog Filmes do Chico - e nessa característica enxergo um ponto em comum com o cinema do mais genial dos brasileiros, Rogério Sganzerla. Assim como nos filmes deste, Reichenbach incorpora com propriedade elementos da brasilidade em sua linguagem cinematográfica.

Mas deixemos o velhinho pra lá que a jovem loura já grita em cada célula desse meu agora atrofiado cérebro. Alguém me responda o que é a Rosane Mulholland, por favor. Há alguns minutos deu-se uma verdadeira revolução dentro do meu corpo, meu coração está rodando ao invés de bater, o sangue venoso e o arterial já não mais se distinguem, a comida foi para o pulmão e a fumaça do cigarro saiu pela orelha tamanho o grau de desconcerto que essa criatura causou nesse que vos escreve.

Ao menos tentarei pôr os pingos nos is. Pode parecer um exagero e de fato o é, mas a Rosane na tela me lembrou dos velhos e bons tempos de Gena Rowlands e Helena Ignez. Minha oração de logo mais com certeza se concentrará no fato de nem todos os atores - leia-se atrizes - compactuarem com o Pedro Cardoso. E adaptando aquela velha máxima do sexo masculino, "Ah lá no cinema, hein".