Deu-se ontem o fim do Festival do Rio e também já é finita a mostra Oriente Desconhecido que se dava no Centro Cultural Banco do Brasil, vulgo CCBB. E, apesar do saldo bancário ser negativo, o cinematográfico é exorbitante. Algumas decepções, algumas surpresas e muito dinheiro nesse tempo de intensa dedidação à arte da telona.
São de olhinhos puxados as duas melhores descobertas cinematográficas dos últimos tempos desse que humildemente vos escreve: Apichatpong Weerasethakul e Hou Hsiao-Hsien. O tailandês AW teve exibido na mostra do CCBB 3 de seus longa-metragens, já o chinês HHH teve 2 longas exibidos na mesma mostra e seu filme mais recente no Festival do Rio.
Dos três filmes do primeiro, Mal dos trópicos e Síndromes de um século são inegáveis obras-primas, um pouco do que de melhor tem-se feito na 7ª arte. O primeiro, em especial, é uma daquelas obras que transcendem o espaço destinado à projeção das imagens e adentram o espectador te tal forma que torna difícil a descrição. O segundo também é um filmaço, mas sua apreciação foi fatalmente prejudicada pelo fato de a projeção do filme inteiro ter-se dado na janela errada (a legenda estava no meio da tela), apesar disso, a força das imagens e do filme como um todo é incontestável e a experiência de vê-lo em película inenarrável.
Já os filmes filmes do segundo projetados na mostra são Millenim Mambo e Three Times, dois belíssimos filmes. Impossível não se apaixonar por Millenium Mambo já no primeiro contato com o filme: junte à aveludada voz over da narradora, a música coordenando o ritmo com que a protagonista adentra um corredor maravilhosamente fotografado com a bela cópia em película e poderá ter uma idéia da experiência. Three Times também é de uma beleza estonteante, o primeiro episódio, então, é de uma liricidade que contagia. E, no que pode ser chamado por mim de o melhor filme do Festival do Rio, A viagem do Balão Vermelho, também do china, a poesia visual está no cerne do filme. As viagens do balão vermelho - como o próprio nome já explicita, a beleza e a maravilhosa atuação de Juliette Binoche, o carisma do mulequinho, fazem desse filme uma verdadeira preciosidade.
Mas nem só de asiáticos vive o cinema contemporâneo, Lucrecia Martel demonstra vigor em seu mais novo filme, A Mulher sem cabeça; Guerin exercita seu estilo no charmoso Na cidade de Sylvia; um Bressane mais linear e nem por isso menos Bressane desponta no belo A erva do rato; Miguel Gomes exibe os bastidores da realização do que seria um filme de ficção no delicioso Aquele querido mês de agosto; os irmãos Coen retomam sua verve comediante no hilário Queime depois de ler; Philip Garrel decepciona um pouco mas nem por isso deixa de ter méritos em A fronteira da alvorada; Eric Rohmer mostra que ainda está atuante e afiado em Les amours D'Astrée et de Celadon; Paolo Sorrentino desfila todo seu esteticismo no premiado Il Divo; e Dário Argento mostra os peitos de sua divina filha em O fantasma da Ópera; entre outros belos filmes e momentos que freqüentaram minha retina nos últimos tempos.
Amanhã tem Abismu em película no CCBB, um dos filmes do que é, em minha opinião o maior dos cineastas brasileiros, o eterno Rogério Sganzerla e, como não poderia deixar de ser, estarei lá nas duas sessões e acompanharei parte da odisséia da chegada do Rubro-Negro ao hexa campeonato brasileiro, no embate contra o falecido Atlético Mineiro.

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