"Estou aqui para dar boas e saudáveis sacudidelas mentais na platéia. A civilização passou a nos reguardar e proteger tanto que não conseguimos vivenciar emoções suficientes por conta própria. Portanto, para impedir que fiquemos lentos e moles, temos de vivenciá-las artificialmente, e o cinema é o melhor meio para isso".

Esse excerto é obra de Hitchcock, mas ilustra muito bem o que Francis Ford Coppola faz com seu espectador em A conversação. Nesse filme, escrito, dirigido e produzido por FFC, que dois anos antes havia lançado seu vigoroso Poderoso Chefão, a sintonia entre o desenvolvimento do personagem e da trama se dá de maneira impecável. Numa sobriedade que impressiona, a câmera de FFC traduz em imagens o dilema em que mergulha o personagem Harry Caul (em interpretação pra lá de inspirada de Gene Hackman). Sua apreensão nos é passada com precisão pelos enquadramentos enxutos (que nem por isso deixam de ter uma plasticidade incrível), de um dos maiores diretores de cinema vivos.

O roteiro, que começa pela construção do personagem, envereda pelo enredo e se desenvolve em crescente, atingindo o clímax (e que clímax!) no lancinante ato final. A trilha sonora, embalada pelo jazz da mais alta qualidade, contribui para fazer desse filme uma obra-prima da fértil década de 70.

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