Wong Kar Wai's Blueberry Nights

O novo filme do cultuado cineasta Wong Kar Wai, My Blueberry nights (que no Brasil os tradutores se encarregaram - como quase sempre - de deturpar, chamando-o de "Um beijo roubado") foi recebido pela crítica com ressalvas e, agora, julgo-o segundo meu crivo.

A primeira incursão do chinês no cinema americano rendeu um filme de qualidade duvidosa. Vamos, então, por partes: o filme tem a presença de ninguém menos que Rachel Weisz, Natalie Portman, Jude Law e David Strathairn, além da estréia da cantora Norah Jones na telona (no papel principal) e a pontinha de Chan Marshal (Cat Power - que aparece na virtuosa trilha sonora do filme). Curiosamente, a sobra de bons atores atrapalha o desenvolvimento do roteiro, a força dos personagens de Natalie Portman, Rachel Weisz e David Strathairn desvia o foco da história principal ao invés de incrementá-la.

A falta de experiência de Norah Jones faz-se sentir, numa interpretação mediana, seguida de perto por Jude Law, que também decepciona. A atuação de Natalie Portman é, por vezes, exagerada, assim como a de Rachel Weisz. Desse time aí em cima, o único que merece sinceros aplausos, em minha opinião, é David Strathairn, que manda muito bem como um policial beberrão e de coração partido.

O roteiro assinado por WKW e Lawrence Block não tem aquela alma de atrabalhos anteriores do diretor, como Amor à flor da pele (In The Mood For Love) ou 2046, ou até mesmo Amores expressos (Chungking Express). Os diálogos são sofríveis, o que se explica pela falta de conforto do diretor chinês com a língua inglesa. E além disso, o roteiro soa um tanto quanto repetitivo, se comparado aos filmes anteriores do próprio.

Apesar das ressalvas, o filme é primoroso na estética: a fotografia, que, dessa vez, não é assinada por Christopher Doyle, e sim Darius Khondji (Delicatessen), é uma preciosidade. A direção de WKW não decepciona, os efeitos em slow motion são belos ( apesar de o cinestas, às vezes, abusar desse recurso, o que não chega a comprometê-lo), a composição de planos do china é sensacional.

Resumindo, o filme tem o ritmo, a beleza e o toque da direção WKW, mas peca no conteúdo.

Um comentário:

bernard disse...

Ah, esqueci de comentar a curiosa referência do WKW ao Cãos de Aluguel, do Tarantino: "I don't tip"...

É, they don't tip.