É impressionante como Moscou é daqueles filmes que crescem com o tempo - e olha que eu o assisti há apenas pouco mais de uma mísera semana -, parece que a cada dia o filme se engendra melhor na mente deste humilde blogueiro. Em parte pela mera divagação em torno do mais novo filme do Coutinho, outra pela revisão de outras obras do homem, outra ainda em virtude da leitura de matérias como a entrevista do velho publicada no site do IG.

A vista de Moscou foi tortuosa. Explica-se: a princípio eu pegaria a sessão das 14h da quinta-feira no Unibanco Arteplex. Mas por um desses caprichos do destino, quando a pilha do mp3 acaba e falta o brick no Thick as a, desperto de um leve sono e me dou conta que ao invés de Botafogo, aterrizo é na Gávea - e lá vai minha programação do dia roleta abaixo. Quando cheguei ao cinema já o relógio batia 14:16h. A outra e última sessão de Moscou era apenas às 22h do mesmo dia, e não, eu não confio nas distribuidoras brasileiras. Percorro os olhos pela programação do Unibanco e eis que vejo que o novo do Zhang-ke (Inútil) começa às 15:20h - 8 muito bem pagos reais nele. Às 18h peguei meu ingresso para a sessão soneca do dia - Ôrí. Aí sim eu estava revigorado e a ponto de bala pro esperado filme do Coutinho - e que puta filme, pena ter que esperar até julho pra rever.

Se em Jogo de cena, Coutinho abordava habilmente as fronteiras entre realidade e ficção nos depoimentos de suas entrevistadas, em Moscou o homem vai aos atores para buscar essa fagulha da verdade pessoal que o ser humano traz intrínseca mesmo na confecção (chamemos assim, como se fosse um processo de natureza artenasanal - que é como o filme efetivamente aborda tal feito) de uma personagem. E de fato impressiona a racionalidade, a genialidade e a progressão quase matemática do dispositivo (que é como ele gosta de chamar) que norteia o cinema do já septuagenário Eduardo Coutinho.

A dúvida que me assola a mente, e acredito que de qualquer apreciador do cinema do homem, é sobre o próximo (?) filme do Coutinho. O que será de seu cinema agora que o velho dissecou de vez seu dispositivo?


*iG - Qual vai ser o próximo filme?

Coutinho - Estou com 75 anos, indo para 76, o que já é uma utopia extraordinária. Não tenho noção se faço outro filme. Fiz sete filmes em dez anos. O que acho uma coisa espantosa. Agora, se eu não continuar a fazer filmes, não tenho mais o que fazer na vida.